Tratamento da Dor Crônica

  • Como a neurocirurgia pode tratar uma dor crônica?

A dor é classificada como crônica quando está associada a modificações patológicas no nosso sistema de processamento de dor, tendo, em geral, mais de 3 meses de duração. É como se os nossos sensores de dor estivessem doentes, produzindo aquelas sensações desagradáveis que chamamos de dor. Diferente da dor aguda, a dor crônica não tem papel protetor. Ela costuma impactar a qualidade de vida, aumentando o risco de  sintomas depressivos, irritabilidade, improdutividade no trabalho, etc. Nesses casos, o tratamento da dor crônica conduzido por um especialista em dor é bastante recomendável. 

Para controlar a dor crônica, os procedimentos neurocirúrgicos podem ser ablativos ou não, invasivos ou não. A ablação é uma intervenção meticulosamente programada em que parte do sistema nervoso é modificada estruturalmente através de uma cirurgia para interromper a transmissão dos sinais dolorosos. O neurocirurgião também pode intervir por meios não-ablativos: isso é feito por meio da implantação de dispositivos que, comsvia medicações ou pulsos elétricos, alteram o “circuito” neurológico que está causando os sintomas do paciente. Chamamos isso de neuromodulação. 

O médico especialista escolherá qual o melhor tipo de tratamento da dor de acordo com cada caso particular. O objetivo deste artigo é expor de maneira simples e direta alguns dos principais métodos não ablativos de controle da dor.

  • Estimulação elétrica da medula espinhal (EEME)

A estimulação elétrica da medula espinhal é uma opção para casos em que os tratamentos convencionais falharam em controlar a dor. As principais indicações para implante do neuroestimulador medular são: dor neuropática periférica, síndrome pós-laminectomia, angina cardíaca refratária e dor regional complexa tipo I. Mas não se preocupe com esses nomes difíceis: agende sua avaliação médica e só assim saberemos se o seu caso pode ou não  ter indicação de EEME. 

O procedimento minimamente invasivo consiste em implantar eletrodos no espaço peridural, ou seja, entre uma membrana que reveste a medula espinhal (dura-máter) e os ossos da coluna vertebral. Esses eletrodos são conectados por minicabos passados pelo por baixo da pela a um gerador de pulsos implantado, que costuma ter elevada autonomia e durar vários anos. O estimulador envia pulsos elétricos para os eletrodos e, assim, intercepta e modula a atividade elétrica dos centros de processamento da dor na medula espinhal, bloqueando a capacidade do cérebro de sentir a dor nas áreas estimuladas, o que alivia a dor sem os efeitos colaterais que os medicamentos podem causar. O neurocirurgião especialista realiza, então, o acompanhamento e programa o dispositivo para que os parâmetros sejam otimizados e controlem melhor a sua dor.

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  • Implantes de sistemas de liberação de fármacos no sistema nervoso.

Outra modalidade de tratamento da dor crônica é a administração de medicamentos diretamente sobre o sistema nervoso. Nesses casos, injetamos os fármacos no espaço subaracnóide, que fica entre a medula espinhal e uma das membranas que a reveste (a meninge chamada aracnóide). O procedimento cirúrgico consiste em implantar um reservatório eletrônico (“bomba”) sob a pele na região abdominal que é conectada a um cateter intratecal inserido na região lombar. Assim, a bomba libera pequenas doses de medicamento de forma personalizada. A dosagem e o padrão da infusão dos analgésicos são ajustados de acordo com a melhora da dor e é possível abastecer o reservatório da bomba de tal forma que dure vários meses. 

A principal vantagem das bombas de infusão intratecal de fármacos é que se obtém o alívio da dor com doses bem menores do medicamento do que seria necessário por via oral ou por via endovenosa. Dessa forma, os efeitos colaterais como sonolência, constipação, náuseas, vômitos e tonturas são mínimos ou até inexistentes e o controle da dor é bastante otimizado. Dentre as doenças que podem ser tratadas com bombas de infusão, as principais são: dor crônica nociceptiva ou neuropática, dor complexa regional, dor oncológica, síndrome pós-laminectomia (falência das cirurgias de coluna vertebral), dor mielopática, dor pélvica e neuropatias periféricas.

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  • Estimulação elétrica do córtex motor.

Existem algumas doenças tais como dor neuropática facial , síndromes de dor central pós-acidente vascular cerebral, dor talâmica e dor após lesão de plexo braquial que respondem bem ao tratamento por estimulação elétrica diretamente sobre o córtex cerebral. O córtex é a parte mais superficial do cérebro, onde estão localizados os corpos dos neurônios e as principais áreas funcionalmente importantes. O procedimento cirúrgico consiste em implantar por craniotomia ou por trepanação um neuroestimulador sobre a área motora do cérebro correspondente ao segmento do corpo acometido pela dor. Esse estimulador é ligado a uma espécie de marcapasso por meio de uma extensão implantável e produz estímulos que bloqueiam a transmissão da dor para o córtex somatossensitivo do cérebro (região onde a dor é tornada consciente). Essa pode ser uma ótima opção terapêutica para reduzir o uso de medicações para dor, apesar de não impedir que elas sejam usadas, se for preciso. Os ajustes são realizados por telemetria durante as consultas ambulatoriais.

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